Ensaios mecânicos em linhas de vida flexível horizontal tipo C, instaladas. Realizar ou não realizar?

O tema da realização de ensaio ou “teste de carga”, denominado como não destrutivo, em sistemas de proteção contra quedas, realizados após a sua instalação, tem se tornado recorrente no mercado brasileiro. Esta prática é amplamente divulgada pelos meios de comunicação, estando inclusive presente em muitos sites de empresas, que se intitulam especialistas em sistemas de ancoragem (linhas de vida) e inspeções. O teste de carga em linhas de vida tipo C, muitas vezes é incluído no relatório de inspeção como uma espécie de “validação do sistema”.
A falta de informação e, principalmente, de formação técnica de montadores/instaladores/profissionais de acesso por corda; e em maior grau, de profissionais legalmente habilitados, colocam em risco a integridade e estabilidade do sistema, expondo os usuários a uma condição de extremo risco.
A NR35 em seu anexo II (sistemas de ancoragem) item 3. COMPONENTES DO SISTEMA DE ANCORAGEM, item 3.2.1.1.1 assim descreve_: “Na impossibilidade de recuperação das informações, os pontos de ancoragem devem ser submetidos a ensaios, sob responsabilidade de profissional legalmente habilitado, e marcados com a identificação do número máximo de trabalhadores que podem estar conectados simultaneamente ou da força máxima aplicável e identificação que permita a rastreabilidade do ensaio”.
Acredito que ao ler o item, a interpretação geral seja: o dispositivo de ancoragem “elementos que incorporam um ou mais pontos de ancoragem ou pontos de ancoragem móveis, que podem incluir um elemento de fixação. É projetado para utilização como parte de um sistema pessoal de proteção de queda e de forma que possa ser removido da estrutura e ser parte do sistema de ancoragem”, não possui as informações gravadas conforme item 6 da NBR 16325 – 2, e a NR35 descreve que deve ser realizado ensaio.
Mas, que tipo de ensaio mecânico deve ser realizado? Força estática, força dinâmica e integridade? E, qual carga deve ser aplicada? Que resultado prático efetivo o ensaio dará, que permita afirmar que o sistema de ancoragem atende a força máxima aplicável, descrita no mesmo item da NR35? Aplicar uma força de 600 kgf ou mais, em um dispositivo de ancoragem de extremidade já instalado, resolveria ou seria melhor aplicar 1.500 kgf?
O fato é que, a realização de ensaio em qualquer componente de uma linha de vida flexível horizontal tipo C já instalada, é totalmente desaconselhável por diversos aspectos.
Existem diferentes tipos de cargas que atuam sobre uma linha de vida. Os tipos de carregamentos incluem carga estática, carga dinâmica e carga de integridade. A carga estática é uma força constante aplicada ao sistema, principalmente as ancoragens de extremidade de uma linha de vida flexível horizontal. Isso pode incluir a tensão de montagem aplicada a linha de ancoragem (cabo de aço), peso do trabalhador em uma situação em que a linha de vida for projetada e instalada para restrição de queda (antes que a queda ocorra), peso dos componentes da linha de ancoragem (cabo de aço, grampos, esticador, indicador de queda, e absorvedor(es) de impacto). A carga estática é considerada uma carga permanente e não muda com o tempo. Já a carga dinâmica é uma força que varia com o tempo, isso pode incluir cargas causadas pela ação de vento, pessoas em movimento utilizando a linha de vida e retenção de uma queda (impacto). A carga dinâmica é geralmente considerada como uma carga temporária e pode variar em intensidade e direção.
É de conhecimento geral, ou pelo menos deveria ser, que linhas de vida tipo C em sua maioria não são projetadas para cargas cíclicas, situação em que há a repetição de carga e descarga. Uma vez que a linha de vida for submetida a uma carga dinâmica proveniente da retenção de uma queda (impacto), em geral todo o sistema de ancoragem deve ser submetido a inspeção, cujo a finalidade é identificar possíveis deformações dos componentes – dispositivos de ancoragem de extremidade, dispositivos de ancoragem intermediários, ancoragem em curva e deformação do absorvedor de impacto em linha de vida – que faz uso deste tipo de componente acoplado a linha de ancoragem. A NBR 16325-2, também estabelece os requisitos para o ensaio de integridade, realizado logo após o ensaio de força dinâmica. Este ensaio tem muita relevância para a segurança dos usuários, pois é estabelecida a aplicação de uma carga adicional, dependendo do número de usuários permitido pelo fabricante, elevando a massa total de forma a garantir que o sistema, mesmo após a retenção de uma queda, ainda possua resistência considerada como integridade. Utilizando uma forma simples de explicar, mesmo depois do impacto de retenção de uma queda, a linha de vida deve ser capaz de manter considerável resistência mecânica.
A tecnologia atual de softwares permite a modelação eficaz na realização de cálculos estáticos e dinâmicos para diversas aplicações, tipos de materiais e ações para sistemas estruturais, incluindo estruturas combinadas, análise e dimensionamento de acordo com diferentes normas técnicas, inclusive a NBR 8800 e NBR 14762, citadas no anexo A da NBR 16325 – 2.  Mesmo fazendo o uso de recursos tecnológicos, podemos buscar exemplos importantes na indústria automotiva. Os fabricantes de veículos, apesar de possuírem dentro do seu processo produtivo alta tecnologia aplicada ao projeto e fabricação, não renunciam à realização do “crash test”. Este teste é um procedimento na qual um veículo é submetido a uma colisão, simulando condições reais de um acidente. O objetivo principal é avaliar como a estrutura do veículo, os sistemas de retenção e outros componentes de segurança se comportam e respondem a forças extremas.
Um fato bastante relevante que deve ser destacado é que os testes e experimentações realizados pelos fabricantes de veículos são todos realizados antes que o veículo entre em escala de produção para ser comercializado. Fica fácil perceber a preocupação do fabricante em colocar no mercado um produto seguro que atenda a um rigoroso processo de qualidade, que vai além da obviedade exigida na legislação que determina os itens de segurança para circulação.
Tendo a indústria automotiva como um exemplo de maturidade dentro do campo das engenharias, fica claro aos fabricantes de sistemas de proteção contra queda a necessidade de colocar no mercado produtos confiáveis, que atendam ao propósito de garantir a integridade física dos usuários no mais alto grau de segurança possível, atendendo aos requisitos das normas técnicas quanto a realização dos ensaios antes do produto ser colocado no mercado. Assim como nos automóveis, linhas de vida são projetadas para absorver impacto através de deformações permanentes (entortar, numa linguagem menos técnica), porém depois de sofrerem estas deformações não são mais como eram antes, parte da resistência é perdida a cada teste realizado, então entende-se que o produto entregue depois do ensaio não é mais o mesmo que se tinha anteriormente.
Leia atentamente as informações do manual de instruções do fabricante, siga as orientações relativas as inspeções periódicas e não realize alterações das características do produto por conta própria. Sistemas de proteção contra queda são projetados e fabricados seguindo critérios pré-estabelecido por um profissional legalmente habilitado, que deve estar ciente da sua competência e habilitação, para assumir total responsabilidade pelo sistema de ancoragem.
Christof Becker
Coordenador de Engenharia Mecânica e Produção
DEMI – Departamento de Engenharia Mecânica e Inovação Industrial

Mais conteúdo

Case de Sucesso

FM Logistic

A FM Logistic em seus 50 anos de atuação no mercado, trabalha visando a compatibilidade de estratégias entre fabricantes e distribuidores. Sua

Leia mais +
Abrir bate-papo
1
Olá
Podemos ajudá-lo?